domingo, 29 de novembro de 2009

Da Lua em Zoom...

Da esquina da Lua em zoom vejo alguém de olhos da cor da terra: são azúis, verdes ou até mesmo castanhos.
Vejo-te da sua esquina ofuscado pela sua sombra, vagueias pela cidade em busca de algo, algo entre corredores e salas, fundos e mundos, mas também na maior das ruas, do asfalto húmido ou seco. Trepas as correntes adversas, mas desistes por vezes... sim, porque eu já te observei daqui.
Até de dia te vejo , mesmo estando a Lua do outro lado da Terra, aliás, é aí que eu te observo mais, que te sinto mais. Procuras fazer das coisas as ruas e as pedras que pisas com o negro dos teus ténis em contraste rua a rua.
Mas chega a noite e observo que o castanho não existe, tão pouco o azul, escapa o verde que fica escondido na obscuridade das tuas pálpebras sonolentas de mais um dia que teve desde cansaço e alegria até à angústia e prisão.

Saltas de forma invisível num concerto que te rebenta as artérias... ou talvez não, em que o som desse concerto não se percebe e em que também eu não te percebo, em que vagueias pela multidão e pelo submundo de um pavilhão qualquer, solitária e em desespero da raiva, da revolta e da tristeza que sentes, foges para a porta e desvaneces em silêncio perante os que te rodeiam, perante aqueles que te apoiam de dia e te desejam boa sorte à noite. Desde aí paraste como se o dia parasse, só acordaste depois sem eu saber, sem me aperceber porque a própria Lua por vezes não me deixa ver quando eu quero.
Por vezes cruzas a minha Lua mas desapareces numa porta deste universo que afinal não passa do meu ponto de vista egocêntrico em que só te vejo a ti por breves instantes com olhos carregados de negro depressivo e revoltante que se encaixam como um puzzle na tua personalidade.

Talvez seja um ponto de vista éfemero que se evapora quando eu quero e que regressa quando não quero, em que não posso pôr em causa a minha liberdade por uma submissão visual de doces linhas e recortes, que me aborrece como uma obrigação obrigada por mim próprio que ficou num ciclo vicioso que noto a partir desta Lua com a mesma ou semelhante função que as outras Luas.
Mais tarde ou mais cedo deixarei de te ver deste ponto de vista lamechas e quadrado, em que vives num universo de rotinas diárias de alguém da periferia de uma urbe que vive de dia e de noite. Descrevo a tua rotina da mesma maneira que te moves por entre a multidão, da mesma razão pela qual ainda te vejo ou te sinto cambalear no vazio, vazio esse que te enche a alma.

Agora que estou a deixar, que será de ti?


Esc. Sec. Artistica António Arroio, início de 2009

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